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Orquestra Sinfônica da Paraíba comemora 80 anos com concerto no Theatro Santa Roza
A Orquestra Sinfônica da Paraíba completou 80 anos de fundação no dia 4 deste mês de novembro e vai celebrar a data com um concerto especial nesta quinta-feira, dia 20, no centenário Theatro Santa Roza, que já foi palco para muitas apresentações da OSPB. A regência é do maestro Gustavo de Paco de Gea, atual regente titular, e que presenciou, como músico, a reativação da orquestra no início dos anos 1980.
A abertura da noite comemorativa será com a música “Uma Noite no Monte Calvo”, poema sinfônico do compositor russo Modest Mussorgsky, seguida por duas músicas no estilo armorial composta por maestros pernambucanos: “No Reino da Pedra Verde”, de Clóvis Pereira, e “Gavião”, de Cussy de Almeida.
A “Symphony nº 9 (Novo Mundo), em Mi menor, Op. 95”, do compositor tcheco Antonin Dvorák, vai finalizar a apresentação comemorativa aos 80 anos da Orquestra Sinfônica da Paraíba. O concerto começa às 20h, com entrada gratuita, mas o público precisa retirar ingresso, que será distribuído a partir das 19h, na bilheteria do teatro.
Desde sua fundação, em 4 de novembro de 1945, a OSPB se consolidou como um dos mais importantes símbolos da música clássica no Nordeste e no Brasil, fruto da visão e do esforço de intelectuais liderados pelo professor Afonso Pereira, então à frente da Sociedade de Cultura Musical da Paraíba.
O musicólogo, Domingos de Azevedo Ribeiro, que estava presente no dia da fundação e que foi presidente da OSPB, escreveu, no seu livro “Cinquentenário da Orquestra Sinfônica”, que maestros residentes nesta capital, como Francisco Picado, Camilo Ribeiro, João Eduardo, Joaquim Pereira, Joaquim Claudino, Severino Gomes e outros entusiastas e músicos, se reuniram na sede da Associação Paraibana de Imprensa, a 4 de novembro de 1945, e ali fundaram a Orquestra Sinfônica da Paraíba. “O marcante significado artístico-cultural encontrou expressiva receptividade no seio da comunidade paraibana”, confirmou.
O primeiro concerto, realizado em 29 de maio de 1946, sob a regência do maestro Francisco Picado, marcou o início de uma história que transformou a cena cultural paraibana. Durante as duas décadas seguintes, a orquestra manteve intensa atividade, até enfrentar, nos anos 1960, um período de pausa motivado por dificuldades estruturais e falta de apoio.
A retomada veio em 1980, com o convênio entre o Governo do Estado e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que reativou e fortaleceu a OSPB. Desde a sua criação, estiveram à frente da orquestra maestros como Joaquim Pereira, Rino Visani, Luzia Simões, Pedro Santos, Arlindo Teixeira, Aldo Parisot, Carlos Veiga, Eleazar de Carvalho, Helena Herrera, Marcos Arakaki, João Linhares, Alex Klein e Luiz Carlos Durier.
O cronista Carlos Romero, um dos apoiadores da fundação da Orquestra Sinfônica da Paraíba, destacou, em depoimento publicado no livro do musicólogo Domingos de Azevedo Ribeiro, a importante participação do maestro Eleazar de Carvalo, após a reestruturação da orquestra. “E o que muito concorreu para o sucesso da Sinfônica foi o maestro Eleazar de Carvalho, de renome internacional, que chegou a proclamar em alto e bom som que a Sinfônica da Paraiba era, no momento, a melhor do país. Tal pronunciamento teve, não resta dúvida, o efeito de uma verdadeira consagração. A verdade é que a Orquestra Sinfônica da Paraiba é hoje um patrimônio valioso que devemos preservar a todo custo”, celebrou.
Atualmente sob a regência do maestro Gustavo de Paco de Gea, a Orquestra Sinfônica da Paraíba segue encantando plateias e fortalecendo seu papel formador. Em 2019, seu legado foi reconhecido oficialmente com o título de Patrimônio Histórico e Cultural da Paraíba.
O maestro Paco foi um dos instrumentistas que testemunhou o renascimento da orquestra. “Eu participei pessoalmente, como músico, da reativação da Orquestra Sinfônica da Paraíba, na segunda fundação, que foi em maio de 1980. Dois anos antes, já participávamos de reuniões buscando a solidificação dessa segunda criação da OSPB, junto ao governador Tarcísio Burity. É uma data muito importante e eu espero que este concerto comemorativo seja inesquecível, uma noite memorável”.
A violinista Alaurinda Padilha, que foi integrante da orquestra por 36 anos, lembra com orgulho do início da reestruturação, quando a OSPB passou a ser profissional. “Eu estava terminando meu curso de violino no Rio de Janeiro quando fui convidada pelo governador Tarcísio Burity para fazer parte da orquestra. Eu estava lá no primeiro concerto oficial, em 1980, e o clima era de muita satisfação entre todos os músicos”, disse Alaurinda, que tem uma ligação ainda maior com a orquestra por ter sido casada por 30 anos com o cronista e escritor Carlos Romero, que viu a orquestra nascer em 1945.
Quem também parabeniza a orquestra nesta importante data é Ana Flávia Pereira Medeiros Fonseca, filha do professor Afonso Pereira. “Ao cumprimentar os atuais dirigentes da Orquestra Sinfônica da Paraíba e, em especial seus devotados músicos, é com alegria que registro as ações desenvolvidas pelo meu pai, Afonso Pereira da Silva, que, dentro do seu pragmatismo, concretizou várias ações no campo da educação e da cultura, a exemplo da criação da Sociedade de Cultura Musical da Paraíba, tendo sido seu primeiro presidente. A partir desse clima favorável à concretização de várias ideias, Afonso se associou com Francisco Picado, Camilo Ribeiro e Joaquim Pereira e criou a Orquestra Sinfônica da Paraíba em 4 de novembro de 1945”.
O diretor executivo da OSPB, Márcio Carvalho, destacou a importância dessa noite comemorativa. “São 80 anos bem vividos, cujas memórias são preservadas através dos registros da cultura paraibana. São gerações que passam apreciando a OSPB, de modo que a continuidade do seu trabalho oferece à sociedade uma opção rica de música, como devolutiva dos investimentos nela realizados”.
O maestro Gustavo de Paco falou sobre o repertório do concerto da noite desta quinta-feira. “Nós vamos repetir Uma Noite no Monte Calvo, de Modest Mussorgsky, porque foi um êxito muito grande a execução maravilhosa que nós fizemos no mês passado. É um poema sinfônico e o autor pensou na ideia de uma noite em um povoado do interior, onde tem uma festa de bruxas. No início, a música é bastante agressiva, com bruxarias e espíritos, até que, em certo momento, na igreja do povoado soa o sino da meia noite. Toda a bruxaria acaba e a noite se acalma”, explicou, destacando que essa música foi incluída no filme Fantasia, de Walt Disney.
“Como eu considero uma noite especial, nada melhor do que mostrar músicas nossas, daqui do Nordeste”, continuou. Então, pensei em fazer duas músicas no estilo armorial. Uma é No Reino da Pedra Verde, que é uma das músicas mais conhecidas desse repertório, do maestro Clóvis Pereira, e a outra é Gavião, que é realmente especial, num estilo armorial muito lento, composta em 1977 pelo maestro Cussy de Almeida”.
Para encerrar o concerto, será executada a obra mais importante do compositor tcheco Antonin Dvorák, que é a Sinfonia nº 9, também chamada Sinfonia do Novo Mundo. “Uma sinfonia super conhecida com temas até folclóricos de um novo mundo, que para o compositor significava o continente americano, já que ele vinha, evidentemente, do seu país natal, que era a República Tcheca. Esse compositor, já radicado nos Estados Unidos, decide fazer uma sinfonia em homenagem a todo o continente americano”, explicou.
O regente
Natural de Buenos Aires, Gustavo de Paco de Gea formou-se no Conservatório Juan José Castro. Atuou como flautista e docente em orquestras argentinas até 1978, quando passou a lecionar Flauta Transversal na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Fundou o Quinteto Latinoamericano de Sopros da UFPB, com apresentações no Brasil e no exterior.
Desde 1980, é primeiro flautista da Orquestra Sinfônica da Paraíba, destacando-se na promoção da música nordestina. Em 1985, assumiu o mesmo posto na Orquestra Sinfônica do Recife e no respectivo quinteto de sopros. Foi professor convidado do Centro de Criatividade Musical de Recife (1996–1997) e preparador da Orquestra Infantil da Paraíba.
Iniciou-se como maestro em 2001, fundando a Orquestra de Câmara Municipal de João Pessoa, onde atuou até 2010. Em 2012, tornou-se maestro da Orquestra Criança Cidadã e, em 2014, maestro assistente da Orquestra Sinfônica Municipal de João Pessoa. Rege a Orquestra Sinfônica da UFPB desde 2013 e, em 2022, assumiu a regência da Orquestra Sinfônica da Paraíba. Em 2025, foi convidado a dirigir a Orquestra Filarmónica de Río Negro, na Argentina.
SERVIÇO
Orquestra Sinfônica da Paraíba
8º Concerto Oficial da Temporada 2025
Regência: Maestro Gustavo de Paco de Gea
Dia: 20 de novembro (quinta-feira)
Hora: 20h
Local: Theatro Santa Roza
Entrada: Gratuita, com distribuição do ingresso na bilheteria do teatro a partir das 19h